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Nilson (L)

Tem sido fácil escrever os meus sentimentos na língua que me acolheu nos meus piores momentos, e sem esquecer que assim a audiência da minha dor é menor. Mas em português o sofrimento é mais profundo e transparente, e quem me ouve não so me entende como me conforta.

Fizeste-me entender que os dias na terra são contados e que devo aproveita-los em vez de propositadamente acelerar a minha partida. Várias vezes pensei em fugir, como nos filmes, nas novelas, mas as burocracias da vida não me oferecem esse conto de fadas e quando não consigo encarar, opto pela saída mais cobarde. Nos meus momentos de fraqueza, recorria sempre a tentativa deste acto e falhava sempre, voltava agenda-lo e nunca cumpria. Mas a mim Deus deu-me a opção de decidir, e a ti não, tu não sabias e nem querias desistir, não tiveste escolha! Pela tua postura e a intensidade de viver que enaltavas eu vi que não querias partir, querias ficar...


Foi bruta e indelicada a tua partida, tinha mais apreço pela morte quando noutras vezes avisou-me, dessa vez ela não teve compaixão em dar-me tempo para me despedir. Quando um entequerido esta doente, a pessoa sabe que há uma probabilidade de vida, daí cresce uma esperança que nos consola, mas por outro lado a crença poderá ser ilusória. Como nos preparamos para uma viagem sem ser marcada? Como entender o porquê desta perda incalculada?


Várias vezes pressenti a despedida de alguém, pelo desânimo pela vida ou falta de amor mas nada em ti tinha sintomas de um fim, pelo contrário a tua energia e vontade de viver me fascinavam, o que me fez querer te conhecer melhor e ter o prazer de degustar da tua sabedoria e nostalgia. Trazias contigo uma áurea contagiante, falavas sem receios e vi no teu olhar o quanto eras genuíno. Talvez por teres amor a vida e teres sabido aproveita-la, Deus considerou-te licenciado dela mas não nos convidou para consagrar-te na tua graduação. 


Nilson, aprendi contigo a ter mais amor pela vida, ensinaste-me a ver esta trajectória com mais motivação. Sempre vi a morte como a solução conveniente para acabar com os meus problemas, vi-a como uma atitude voluntária mas mostraste-me que não cabe a mim planear o meu fim. Acreditava cegamente que o suicídio podia me curar, mas tu sim me curaste!... Porque hoje vejo que esse pensamento obscuro era carência, a necessidade de atenção, atenção essa que poderia ser estimulada por um ser benigno como tu. Neste instante de aflição vejo que era egoísmo da minha parte me privar de algo que tu lutaste até ao último minuto para ter. Apesar de teres deixado esta lição erudita e fatal, a tua partida foi extremamente inconveniente...Queria ter mais tempo, para aprender mais...




Descansa em paz Nilson Peixoto 

19 de Novembro de 2016



Lunga Izata



Nilson (L) Nilson (L) Reviewed by Lunga Noélia Izata on novembro 21, 2016 Rating: 5

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About me

I am willing to share my own stories and use my platform to talk about movies, books, music, volunteering, traveling and relationships.

My first publication was a fiction novel ‘Sem Valor’ (meaning Worthless) where I addressed autism and prostitution; wrote a short-fiction story ‘Hello. My name is Thulani’ featured on ‘Aerial 2018’ about transgender issues and represents an allegory of identity crisis, meaning everyone is in transition to something; co-authored with six African authors on a motivational book ‘Destiny Sagacity’ about the power of destiny; my memoir ‘The story is about me’ tells my adventures volunteering in Uganda and staying with a family in the village of Wakiso; and my recent offering “Read my Book’ is a fictional approach to apartheid.

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