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Volta Bubas...

Sonhei contigo... Eras um desenho animado, com uma t-shirt de algum team de futebol a assistir um videoclip em que nele nós nos despedíamos de ti. A música era em Francês e era alegre, estávamos todos a cantar e transparecia que tínhamos aceite a tua partida. Não sei quanto tempo vai demorar para esse sonho se tornar realidade... Será que algum dia vamos aceitar? As respostas vão chegar com o tempo mas agradeço aos céus pelo sinal que pedi. Queria saber que estás bem e acho que agora sei...

Dizem que os sonhos têm significados e acho que consegui decifrar o meu. Tu como desenho animado representa o teu lado criança, alegre, livre... A t-shirt de futebol lembra-me a tua obsessão por este deporto, lembras-te do quanto eras goleiro? Todas as aulas de Educação Física jogávamos futebol, tu como sempre eras escolhido como líder de uma das equipas e tinhas que selecionar outros colegas, e eu como sempre era a última a ser escolhida. Eu era péssima! Acho que te irritava o facto de eu estar nem aí para futebol, ao contrário de ti que vivias para isso, era o que te fazia ir à escola, neh? Eramos tão diferentes amigo...

O videoclipe se calhar era para relembrar-me da tua paixão por música, e de quando começaste a tocar...Dj Bubas Caramelo lol. É difícil não pensar em ti e não sorrir, eras tanta coisa, tanta coisa boa...e o francês qual era o papel que desempenhava nesse sonho? Talvez por ser uma língua que eu não domino espelha o quanto estou confusa com a tua morte ou será que era uma maneira nostálgica de recordar-me das aulas de Francês com a professora Margarida? Será que ela sabe que o nosso indisciplinado se tornou num grande homem? Será que ela sabe que tu partiste? Tantas perguntas meu amigo...

Lembro do dia que ela te recebeu na nossa sala...tinhas reprovado no sétimo e ias fazer novamente o sétimo connosco. Já te conhecia porque o CP (Colégio Português) era bem pequeno e tu aprontavas tanto que não tinha como não saber quem eras. Fiquei triste por saber que tinhas reprovado, pensei que ias passar o ano lectivo todo frustrado, atitude normal de uma criança, mas não, tu estavas nem aí. Uma vez até disseste “já queria ser da vossa turma há muito tempo...” , que ser humano é esse? Deixavas-me sem palavras, a tua liberdade emocional era demais!

Lembro-me quando começaste a “causar” e a engatar as meninas, tinha amigas que queriam te conhecer e eu dizia “o bubas? Nãoooo!”, eu era a pura hater! Mas não era só os teus olhos cor de caramelo que atraia as meninas, era a tua maneira de estar, a tua áura, a tua energia que conquistava todo mundo. Sempre foste bom na escola da vida, e isso sim é que interessa - saber viver, saber aproveitar todos os momentos, ser feliz!

Viveste no Estados Unidos e voltaste cheio de ideias e tal, só querias falar dos teus projectos, e sentia orgulho de ver o meu colega que matava aula para ir jogar futebol a falar dos seus empreendimentos. Lembro-me quando ligaste para mim a pedir ajuda com o Café de Angola, disseste que sentias que o boletim informativo precisava de um toque meu, e senti-me tão feliz por saber que ainda vias potencial em mim. Nunca tive a chance de dizer que na verdade eu é que te admirava, por seres essa pessoa que se supera sempre e nunca desanima.

O tempo passa, nós mudamos, fazemos outras amizades, nos tornamos distantes, mas sempre que olhasse para ti, via a mesma pessoa, aquele Bubas com o andar atrapalhado, a falar atoa, com aquele sorriso de malandro. Quero te ver meu amigo broto...quero conversar contigo, olhar para os teus olhos, ver-te todo “pimposo”, todo estiloso...Poxas! Eras tão bonito, sabias? #pitxo #23 ahahha, lembraste? Hoje olho para a tua foto, foto essa que espalharam nas redes sociais e criaram mil versões do teu desfecho, e dá-me uma revolta!!!

Dói ver pessoas que não te conheciam falar de como partiste, infelizmente, a quem use as redes sociais para propósitos tristes. Porém, encontrei consolo em diferentes plataformas, nelas pude partilhar a minha dor com a esperança de conseguir salvação e paz. Estás a ver aquelas senhoras a espernear nos óbitos? É assim que me sinto quando publico algo sobre ti, como se quisesse que a dor deixasse de me possuir. Não tenho vergonha do meu desespero digital, não tenho vergonha de dizer que não estou bem e que a tua partida me destabilizou completamente.

Este luto online apoiou-me, mesmo estando longe dos outros enlutados, senti que não estava sozinha. Foi difícil não poder te despedir, de estar longe das pessoas que te queriam bem, conversar com elas sobre ti, relembrar os momentos que nos proporcionaste, olhar para os teus irmãos e ver traços teus. Se cada perda é uma lição, os Deuses escolheram bem dessa vez, escolheram alguém que a sua morte iria afectar e ensinar muita gente. Aprendi que a morte acorda, eu estava a dormir, vivia no meu mundinho em que acreditava que pessoas como tu cheias de vida não partem...que ilusão minha! Dizem que a morte é descanso, definitivamente descanso para o que partiu mas os que ficam estão longe de ter descanso. A morte perturba, assola, destrói...

É surreal! Não dá para acreditar! Volto sempre no momento que recebi a notícia, com a esperança de ter percebido mal mas não...a Jandira foi bem explícita! Eram 10 horas quando acordei com uma chamada não atendida dela e antes que eu pudesse retornar, ela escreveu “O Bubas morreu.”, liguei para ela e ela chorava desalmadamente “Acabou!!não tem mais Bubas!!”, parecia que ela não estava só a convencer-me do que aconteceu, mas a ela mesma, como se ela própria não acreditasse no que ela estava a dizer. Falamos durante algum tempo, mas não nos percebíamos, eram só gritos…e por mais que gritássemos, implorássemos, não há nada que podia te fazer voltar! Acabou!

Foste um bom amigo para ela e acredita ela sente muito a tua falta. Obrigada por teres sido tão bom para nós. Quero acender uma vela para ti, quero também pedir desculpas por deixar que nos afastássemos, por termos nos tornado pessoas que ficavam anos sem se ver, por termos deixado a amizade morrer e nos transformado em meros conhecidos. Desculpa por tudo! E obrigada por tudo.

Descansa em paz Heriberto Gomes...a.k.a. Bubas Caramelo dos Red Bikers


Lunga Izata

16.06.2019


Volta Bubas... Volta Bubas... Reviewed by Lunga Noélia Izata on junho 22, 2019 Rating: 5

3 comentários:

  1. Waw, um dos memoriais mais lindo q ja li, que a alma dele descansa em paz.

    E os meus pêsame.

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  2. É incrível né,
    A maneira como certas pessoas não mudam connosco ou transformam-se em outras, sem importar o tempo. Com o Heriberto eu tinha sempre essa sensação, poderia passar anos, mas qdo nos encontrássemos ele não deixava a simpatia, a educação, o sorriso maroto e o "xaxo" de sempre...
    Tbm lembro-me bem dele nos nossos tempos do CP, tal como o descreveste, o engagatam das miúdas, terrível da sala, viciado na bola (mais aquilo era vício), e o mais engraçado é k ele era bem moqueiro (lol). Estávamos sempre aos beefs, estigas, mas sempre amigos...isso tudo porque o Bubas sempre teve essa energia, a aura dele era mesmo das boas...possas doeu-me bastante a notícia ��.
    A última vez k nos cruzamos foi o mês passado, ele estava a jantar sozinho no Sanjis. Cheio de pausa, charmoso, com aqueles olhos de caramelo, educado e sem fingir levantou-se para me cumprimentar dizendo "Pacavira estás boa?", conversávamos algum tempo e seguimos o nosso caminho...
    Dou graças a ti meu Deus por permitir k aquela imagem dele fique sempre comigo, aquela nossa conversa, aquele xaxo dele (agora mais maduro), ficarão certamente para sempre na memória.

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    Respostas
    1. moqueiro ahahhaahah ya lemro-me...poxas so memorias boas...so saudade boa...esta perda vai nos servir de licao amiga para nao deixarmos certos lacos morrerem...quero ser crianca outra vez...que a alma dele descanse em paz

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I am willing to share my own stories and use my platform to talk about movies, books, music, volunteering, traveling and relationships.

My first publication was a fiction novel ‘Sem Valor’ (meaning Worthless) where I addressed autism and prostitution; wrote a short-fiction story ‘Hello. My name is Thulani’ featured on ‘Aerial 2018’ about transgender issues and represents an allegory of identity crisis, meaning everyone is in transition to something; co-authored with six African authors on a motivational book ‘Destiny Sagacity’ about the power of destiny; my memoir ‘The story is about me’ tells my adventures volunteering in Uganda and staying with a family in the village of Wakiso; and my recent offering “Read my Book’ is a fictional approach to apartheid.

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